sábado, 22 de outubro de 2016

10 motivos para frequentar o Boteco do Pedro, um dos bares mais legais da Lapa


Impressionante como a gente é capaz de deixar escapar alguns pequenos prazeres, muitas vezes tão acessíveis, porém, ignorados. Para mim, um exemplo é o Boteco do Pedro, na Rua Gomes Freire, na Lapa. Fica em frente ao Bar do Adão, seu vizinho um tanto quanto gourmetizado. Pensei em chamar essa postagem de “10 motivos para frequentar o Boteco do Pedro, em vez do Bar do Adão”, mas preferi concentrar só nas qualidades do lugar, que conheci mês passado, apesar de tanto circular pelo bairro mais boêmio do Rio. Bem, apesar de não ser uma postagem de comparação entre os dois bares, várias das dicas abaixo valem como uma crítica ao Adão, que costuma ter preços altos e garçons que te ignoram, mas vale ser visitado, por conta dos pasteis maravilhosos, em promoção às segundas-feiras. Falemos do Boteco do Pedro:

1. A cerveja no Boteco do Pedro é barata para os padrões da noite carioca. Heineken e Original de 600ml custam R$9, e as mais tradicionais, como Brahma e Antarctica saem por $8.

2. A cerveja vem gelada.

3. Fica no coração da Lapa, boa pedida como pré-night.

4. Dificilmente você vai enfrentar fila pra entrar no Boteco do Pedro. Numa sexta chuvosa, por exemplo, em que o Bar da Cachaça fica cheio de gente embaixo da marquise, corra pra lá. Tem mesinha e cadeira no interior, tevê ou rádio (ou as duas coisas ao mesmo tempo), banheiro acessível, gente velha, nova, diversa. Se quiser ficar do lado de fora, tem balcãozinho simpático também.

5. Eles servem petiscos, mas também têm refeições completas fora do horário tradicional de almoço ou jantar.

6. O Pedro fica no balcão, mas o destaque do bar, na verdade, é o Chiquinho, um dos garçons mais simpáticos que você vai encontrar na cidade. Atencioso e bem humorado, ele não vai passar por você fazendo a egípcia, fingindo que não te viu ou não te escutou. Ele vai te chamar de “cabra bom”, te receber com um sorriso, e quando você pedir um pastel, ele vai querer trazer dois (mas se não quiser, é só dizer que deseja apenas um, rs). Sério, o Chiquinho é o grande responsável pelo alto astral do bar.

7. Boteco do Pedro tem pasteis saborosos e bem recheados. Nos sabores carne moída, carne seca com cebola roxa, queijo minas, queijo coalho e queijo com cebola, custam R$4 e ficam melhores ainda se você pedir a pimenta da casa. Vai por mim: peça a pimenta da casa. Acho que a cozinha lá abre por volta das 16h, então tem que ficar ligado nisso. Mas depois que abre, os pasteis já ficam prontos no balcão, é pedir e levar, sem espera.

8. Segundo meu amigo Lucas Alves Ribeiro, o visual retrô é um charme à parte. O vitrô separando a cozinha do público, os papeis para embalagem, a prateleira de frutas, o suporte para bebidas quentes, cada detalhe é um passeio aos anos 1990 ou para um tempo mais antigo até. 

9. Uma gatinha branca, com bolinhas pretas e cor de caramelo está sempre circulando entre os pés dos clientes. Charmosa, o nome dela é Marie.

10. O Boteco do Pedro não cobra 10%. Mas você vai sair de lá com vontade de dar gorjeta.  

sexta-feira, 11 de março de 2016

Amanhã tem maratona (de cerveja) na Rua Augusta e se eu fosse você ficava de olho nesse evento


Meus amigos Gabriel Trova e Bruno Branquinho, há seis anos, organizam um dos eventos mais legais de São Paulo, a Maratona da Augusta. O desafio da parada é beber em praticamente todos os bares da famosa rua de São Paulo, com objetivo simples de aproveitar a vida.

Sem caráter competitivo, a maratona é basicamente dedicada à apreciação de cerveja e coisas que acontecem quando se bebe, tais como conversas de boteco, interação com gente desconhecida e dançar sem música. As edições anteriores já acumulam causos memoráveis, tendo como destaque os pequenos blocos de carnaval que se formam de repente ao redor das pessoas, e as amizades passageiras com pessoas das mais diferentes. Tem gente que se perde no caminho, tem gente que se acha, e geral de diverte.

Neste sábado, 12 de março, a Maratona começa às 16h, na Augusta com a Rua Luís Coelho. Como é de praxe, “por opção da direção do evento, ao circuito será adicionado o estabelecimento localizado na esquina da Rua Peixoto Gomide com a Rua Frei Caneca”. E o passeio termina quando 1) acaba o dinheiro; 2) acabam os bares; 3) acabam as condições físicas; 4) eventos da natureza nos impedem de ficar na rua; ou 5) manifestações políticas desencadeiam reações descabidas e difíceis de suportar da polícia, como lançamento de bombas de gás sobre os cidadãos, como já aconteceu uma vez; mas a gente espera que amanhã tudo possa correr bem, inclusive com o tempo.

Tipo exportação: há tempos que falava com Gabriel e Bruno que a caminhada etílica devia ter uma edição no Rio. Assim, finalmente, em outubro passado organizei a Primeira Maratona Mem de Sá, sucesso de público e de histórias, percorrendo uns vinte bares, com gente maravilhosa e bebida, porque a vida tem que ser das pessoas curtindo a rua.

A maratona de São Paulo acontece no primeiro semestre do ano, a do Rio na outra metade, mas já estudamos com uma galera de Minas fazer uma edição pão-de-queijo. Esperamos vocês amanhã lá. Um beijo com cerveja!

O dia em que eu quase caí na porrada com um cara no bar por causa de horóscopo



Os signos invadiram a vida, estão por todos os lados nas redes sociais on-line e offline, no seu Facebook e na mesa do bar. Pra onde você olha, lá estão mapas astrais, textões, quadrinhos, vídeos, piadas, Susan Miller, perguntas sobre ascendentes após cinco minutos de conversa com alguém que você acabou de conhecer. Tomaram a internet como as princesas da Disney, que vira e mexe voltam disfarçadas de memes pretensamente divertidos, mas que na verdade são um pé no saco. Nada contra signos e astrologia, tenho até amigos que são.

Brincadeiras à parte, não tenho grandes problemas com a questão. Até gosto de abrir o horóscopo do jornal, de vez em quando, e ler em voz alta o que certos anônimos gurus têm a dizer pra gente. De boa, os conselhos e passagens escritos em quatro ou cinco linhas não raro até me despertam alguma reflexão. Gosto de interpretá-los como micro-oráculos, passagens que, como as escritas sorteadas por um realejo, provocam alguma guinada de pensamento, mesmo que tão breve com uma sinapse. Jogo da sorte, carta de cigana que encontra uma inquietação interna, acasos.

Não faz muito tempo, encontrei um amigo lá no bar, pedimos umas cervejas e de repente veio o tema. Ele, que leva muito a sério, disse que isso não era modinha e que tinha até uma empresa no Japão que deixava de contratar pessoas de certos signos, porque a energia não ia bater, não daria certo uma companhia nascida na data X, com ascendente em Y, receber o funcionário nascido em Z, jamais.

Arnaldo (nome fictício pra preservar o colega) disse então que ele mesmo conferia os signos das pessoas que entrevistava para vagas de emprego, o que me deixou revoltado. Até onde sei, astrologia nunca foi reconhecida como ciência, e mesmo se fosse, pelo caráter discriminatório da ação, não poderia ser critério de seleção para uma empresa.

Eu estaria errado se colocasse quaisquer saberes a serviço da Ciência, assim com maiúscula, sacralizada, longe de mim. A questão maior estava em usar critérios tão subjetivos para admitir uma pessoa em uma firma.

“Se eu ficasse sabendo que uma companhia deixou de me contratar por causa do signo, entraria com um processo”, argumentei.

E eis que, de trás de mim, antes de Arnaldo responder, surge uma voz estranha:

“Você é um filho da puta!”

Olho pra trás e vejo um rapazinho bem apessoado, branco, estatura média, cabelos encaracolados, camisa florida hipster, bigode hipster, o resto da roupa hipster, tomando algo na mesa ao lado, em pé, assim como nós.

Sem entender muito bem, pergunto: “O quê?”.

Ele olha pra mim e repete: “É, você é um filho da puta, cara. Quem é você pra dizer que astrologia não é séria? Seu amigo está certo!”.

A partir daí, faço uso então da minha grande paciência e tolerância com as mais ásperas situações, e converso com o carinha, falando antes de tudo sobre a sua abordagem, à qual várias outras pessoas responderiam logo com um soco na cara, risos, já que filho da puta é motivo pra bastante gente cair na porrada por aí. Tem pessoa que se dá mal por insulto menos grave! E, parêntese, faz tempo que tirei filho da puta da taxonomia dos xingamentos. Ora vejam, as putas merecem muito respeito, não devem ser motivo pra insulto, assim como mandar um indivíduo se foder não pode ser ruim. Eu falo sério, tirei do vocabulário essas coisas, mas isso é assunto pra outra conversa.

Nessas horas eu penso: melhor não me meter em confusão. Imagina entrar na briga com um imbecil por conta de nada, parar na delegacia por agressão, interromper a cervejinha só porque alguém resolveu se meter na minha seríssima conversa sobre horóscopo? Melhor preservar minha ficha limpa. Por dentro eu até penso com meus botões: cara tão bonitinho e vem puxar assunto assim? Que pena.

Como você vê, o título dessa pequena crônica se resume a algo que dificilmente rolaria da minha parte. No fundo, sou um ser tolerante até com quem resolve me xingar na rua. Deixa eu acreditar que é melhor assim.

Os ânimos se abrandam. Ele resolve fazer o quê, então? Lógico, perguntar o meu signo! Eu respondo que sou aquário (devia ter blefado). Ele revida: “Tá tudo explicado! É lógico que você tinha que ser aquário, assim, se achando o dono da verdade!”.

Percebemos que ele está acompanhado, a namorada do cara olha pra mim e diz: “Não liga pra ele não, eu também sou de aquário!”. Eu vou me sentindo numa interação cada vez mais surreal e resolvo dispensar os dois, fim de papo, sigam seus caminhos e vão pra outro canto caçar gente pra invadir a conversa.

Eles saem, volto pra normalidade da minha cerveja, mudo com Arnaldo o rumo da prosa e até acho graça do causo, como costumo fazer depois que as coisas passam.

Há uns meses hospedei em casa um filósofo e numa conversa sobre horóscopo, ele disse o seguinte: “Se a lua, tão longe, consegue influenciar o movimento das marés, porque o movimento dos astros, dos quais tão pouco sabemos, não podem também agir sobre o nosso corpo, que é setenta por cento formado por água?”. Faz sentido, pensei comigo. E bola pra frente. Cada um com suas crenças.

Meses depois daquele episódio, vejo o tal carinha hipster no mesmo bar. Sinto de longe a energia estranha. Percebo que não lembra de mim e, mais uma vez, ele entra na minha conversa: “Seu nome é Mustafá”, ele diz, me olhando. Faço cara de “lá vem”. Ele se afasta, fica em silêncio, se reaproxima e fala: “Eu comeria teu cu”. E, num gesto rápido, como diz aquela música: eu me coço e saio fora! Certa é a expressão que diz que algumas pessoas estão fora de órbita, melhor evitar!

domingo, 10 de janeiro de 2016

O bar que te chama



Para ler ouvindo: “Vamos”, da banda colombiana Cero39 

“Você falou que ia aparecer e não apareceu, estamos aqui esperando”. É madrugada de 8 de janeiro e recebo um áudio no WhatsApp com essa mensagem do meu garçom favorito, o Sérgio, do Bar da Cachaça. Logo nos primeiros dias de 2016 eu esbarrei com ele na rua, desejei feliz ano novo, disse que ia dar uma passada e acabei não indo lá. Fui cobrado.

Quem manda a mensagem é a Natalia, minha estagiária, que depois ainda envia um dos áudios mais queridos que já recebi: “Oi, Jean”, diz a Diane, ex-estagiária, me chamando. Em seguida, direto do bar e ainda via Whats, me mandam um abraço a mãe, o pai e o irmão dela, que nem conheço pessoalmente, chamando pra beber. Coisa mais fofa. Apresentei o lugar pras meninas e elas nunca mais saíram de lá.

Fato é que eu entrei numa de não beber cerveja até o carnaval, pra perder um pouco da barriguinha de chopp e sair seminu de índio nuns blocos (risos). Troquei o fermentando pelos destilados ou água, e assim bebo menos e mantenho a forma (?) até a festa preferida do ano. Mais risos.

Uma amiga de Minas disse que eu tinha que voltar a escrever no blog, e mais gente falou que nunca mais publiquei nada sobre a vida boêmia do Rio. Fato é que no final do ano, com tanta crise política e clima de golpe, até desanimei de escrever sobre os botecos. Mas a poeira baixou um pouquinho, o Cunha começou a levar o que merecia, e agora fico mais animado pra escrever no Saideiríssima.

Eu tô é tomando um prosecco que sobrou do réveillon, mas logo, logo, volto pro bar, pra viver e ouvir histórias novas, no ano que chega com desejos de muitas cervejas nas rodinhas com amigos, conversas amenas e vivências que só os bons bares proporcionam pra gente.

Feliz 2016! Feliz seu bar preferido!

E uma dica: no Bar da Cachaça, peça a caipirinha de Gabriela. Se você curte uma bebida mais adocicada (não é meu forte), peça essa que junta numa só receita um dos drinks mais famosos do Brasil e uma das iguarias mais pedidas lá no bar. Depois me conte o que achou.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Dez táticas de sucesso para se dar bem no bar da esquina


Bar é um dos melhores lugares pra flertar nessa vida. Você está lá pra relaxar, ficar embriagadinho, falar amenidades e encontrar pessoas na mesma sintonia. Facilita muita coisa.

Depois de muito frequentar o bar com minha amiga Dani, acabamos elaborando um pequeno manual de técnicas de sucesso pra sair acompanhado de lá, amostra singela de nosso vocabulário, construído com litros de bebidas e esforços agradáveis.

Você pode combinar várias das táticas no mesmo flerte, então pega o copo de cerveja e vem com a gente!

#1 Não tenha receio de beber sozinho. Tem gente que fica toda encabulada de beber sozinha, mas isso é bem legal. No caso do seu bar cativo, a vantagem é chegar e conhecer a galera que frequenta, então é sempre provável encontrar alguém conhecido. Do contrário, abra uma garrafa, aproveite sua bebida, olhe a paisagem, observe as pessoas, pense na vida, veja a novela sem som na TV. De repente, olha que coisa, aparece aquele broto! Daí é partir para os próximos passos.

#2 Tenha sua mesa cativa. Você senta sempre no mesmo lugar, o garçom sabe qual seu drink favorito e a visão é estratégica. Em nosso caso, eu e Dani optamos pela mesinha logo na porta. É perto do balcão e você fica no caminho das pessoas. Visibilidade é fundamental, não é mesmo? O problema é que a nossa mesa era também lugar cativo de um cara que muitas vezes chegava antes da gente. Ficávamos chateados, mas a vida é assim: às vezes, alguém chega antes de você.

#3 Olhar dentro dos olhos sem compromisso. Chegar junto não é fácil, tomar toco, então, nem se fala. Contudo, desenvolvemos esse eficiente método de olhar profundamente nos olhos da paquera. Chegou alguém que você não sabe se vai entrar na sua? Não deixe de arriscar, olhe de forma penetrante nos olhos daquela pessoa, não tenha vergonha, não pense muito nas consequências, apenas mire. Se o alvo do seu desejo desviar o olhar, não desista. É comum rolar uma segunda olhada como quem pergunta: era comigo mesmo? Tira-teima pra saber o potencial de algo render.

#4 Acene com um copo. O gesto é simples. Segure um copo e levante sua mão até a altura do rosto, levemente, acompanhada de um sorriso, como quem diz oi ou oferece um brinde à pessoa. Essa é uma das melhores táticas pra ver se vai rolar. Em caso positivo, em geral, o tempo entre o aceno e a pessoa estar ao seu lado leva poucos minutos.

#5 Aproximação. Não é fácil chegar junto das pessoas, principalmente quando você não é nenhum Cauã Reymond. Mas um bom papo faz a diferença. Pra não falar sobre o calor ou a chuva, recomendamos que você puxe assunto falando sobre bebida mesmo. “Adoro essa cachaça que você está bebendo”, “já experimentou a de milho?”, “fez boa pedida, hein” são formas possíveis de iniciar uma conversa.

#6 Peça um isqueiro. Essa é bem velha, mas ainda funciona muito. Mesmo que não seja fumante assíduo, nossa dica é experimentar de vez em quando um cigarrinho de palha mineiro. O tabaquinho é charmoso, apazigua a mente e serve de assunto pro desenrolo. Cigarro assim apaga a cada duas tragadas, então meça o potencial do empréstimo. Você vai ter que pedir mais de uma vez.

#7 Não se prenda a rótulos. Você é gay e, putz, aquele cara diz que é hétero? Vice-versa? Experiência própria: não é porque uma pessoa sempre bebeu Brahma, que ela não vá um dia provar Serramalte. Até quem diz que só bebe Heineken pode beber Colorado, se você oferecer com jeitinho. Na verdade, muita gente só está esperando que alguém mostre que há outros gostos. Aproveite sua chance.

#8 Ataque duplo. Tem vez que tudo fica indefinido, não dá pra saber quem quer quem e quem gosta do quê. Você não está sozinho na missão e sua companhia está interessada na mesma pessoa? Não tem problema, ajam em dupla. Há muitos resultados possíveis.
Bônus: Ataque coletivo também é uma técnica. Risos.

#9 More perto do bar. “Eu moro aqui pertinho. Vamos continuar bebendo lá em casa?” Isso não é uma simples frase, é música para os ouvidos. Acredite, existe a hora certa em que a gente só quer ir pra um lugar mais calmo. Quer opção melhor que o seu lar doce lar? Musiquinhas, bebidinhas, conversa num tom mais calmo, baita convite! Se você mora perto do seu bar cativo, lembre-se de ter um estoque de bebidas e delícias pra receber da melhor forma novas visitas.  
Bônus: se você sabe fazer massagem, jamais esconda esse segredo!

#10 Mata-mata. A noite foi longa, você abusou da capacidade de seduzir, ou não foi um dia de muitas possibilidades, a concorrência estava difícil, mil coisas podem ter atrapalhado seus objetivos... Nem sempre o mar está pra peixe, nem sempre o bar está para flertes. Mas não desista! Certos momentos pedem uma coragem adicional, exigem ousadia extra, e você não está a fim de abandonar oportunidades. É nessa hora que você e os parceiros de flerte olham para o relógio e cronometram dez minutos. É o tempo que vocês têm pro tudo ou nada, ou investem de vez nas pessoas mais interessantes ao redor, ou voltam pra casa de mãos abanando. O interessante dessa estratégia é a adrenalina envolvida, a superação de expectativas. Acredite, agir sob pressão rende ótimos resultados, portanto, tenha foco até o último segundo!

Bem, amigos, é isso. Se você tem sua própria tática, pode dividir com a gente! E são bem vindas cartas para a redação. Até a próxima!

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

um boteco pra chamar de seu



segundo conta minha mãe, eu aprendi a ler em cima de uma mesa de sinuca, no bar ao lado da nossa casa, num bairro lá da periferia de São Paulo, aos dois anos, em 1986. um velho alemão que frequentava o lugar me incentivava a escrever as vogais com o giz dos tacos e em troca me dava umas balas − um condicionamento nada ortodoxo, na verdade um tanto assustador, que aposto ter influenciado bastante a minha vivência etílica tempos depois. hoje eu não vivo sem um pé-sujinho, com amizades em volta de uma cerveja gelada.

mesa, cerveja. a receita é bem simples, recomendo. Você pode acrescentar amigos, conversa com o garçom, filosofia, flerte, ou tudo isso ao mesmo tempo.

paulistano, minha infância foi toda no interior do estado, em Assis. com meu sotaque de caipira, fui uma criança bem feliz. vez em quando, passava a tarde toda fora, voltava todo sujo de lama, comia goiaba e jabuticaba do pé, chupava cana caída dos caminhões da colheita, descascava amendoim fresquinho, cheio de terra.

meu pai frequentava o bar do Toni, um cara meio babão, que limpava o balcão com um pano xexelento, horrível. e os caras passavam o dia lá jogando truco, tomando cerveja, contando histórias. de vez em quando eu ia lá pra acompanhar o pai, ou então chamá-lo a pedido da minha mãe. eu tinha nove anos e naquela época ninguém tinha celular, então o jeito era ir andando pra dizer que o almoço estava pronto. lembro bem de pisar em ponta de cigarro e queimar a sola do pé mais de uma vez, e isso me faz recordar que eu curtia mesmo andar sem calçado, mas acho que depois, ainda novinho, me disciplinei mais um pouco, e passei a ir ao boteco de chinelo.

depois nós viemos pro Rio e meu pai tinha sempre um bar cativo. no começo fomos morar na Baixada, em Belford Roxo, e o que me deixava intrigadíssimo era o fato de as pessoas não falarem bar, e sim barraca. fiquei bolado por muito tempo com essa e outras diferenças de vocabulário. além do que, no Rio, ninguém jogava truco! nunca mais vi rodinha com um monte de marmanjo gritando como se fosse bater no outro, com uma carta de baralho colada na testa. mudança tem dessas coisas e hoje eu amo o Rio de Janeiro, sou bem carioca.

todo dia, quando chego do trabalho, tem o mesmo cara no bar da esquina. baixinho, de óculos, deve beirar os quarenta. ele e uma garrafa fiel. Tenho a impressão de ver aquela barriga de chopp crescer exponencialmente cada vez que passo. engraçado.

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eu não sei quando foi a primeira vez que fui ao Bar da Cachaça, só sei que fui frequentando como experiência exótica para provar as doses, tomava sempre uma Germana, só porque um ranking publicado pela Playboy figurava colado em uma das geladeiras e dava boa classificação pra marca. eu achava o preço aceitável, passei a beber. bom custo-benefício pra quem não queria tomar Gabriela (sei que é uma das mais pedidas, mas eu não curto o sabor doce demais), ou a Cachaça de Gengibre, também preferência da casa, mas que também não faz muito meu gosto. hoje eu passo lá mais pra tomar cerveja mesmo.

moro praticamente na Lapa e esse bar é estratégico, já que reúne gente que me agrada, garçons simpáticos, bebida gelada, está a meio caminho do Circo Voador e até do MBA, quando volto a pé.

se eu andar em círculos, ora veja, o Bar da Cachaça fica entre a minha casa e o próprio Bar da Cachaça! não tem como não me agradar! são tantas histórias, em anos morando no Centro do Rio, que eu precisei criar esse blog (mais um na vida, enfim, não resisto). pelo padrão, o que eu narrar aqui será relativo ao Cachaça, mas tem muita mesa boa pra contar causo por aí. do Tondela, na Rua do Senado, ao boteco nas margens do Tapajós, no Pará. das noitadas regadas a vinho, no Uruguai, Pavão Azul em Copacabana, ao Bar Urca, ensolarado, tem sempre uma história boa pra lembrar.

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saideiríssima: sf. (sair + deiríssima) 1. gír A rodada, garrafa ou dose posterior à saideira, aquela que a gente precisa beber, nem que seja levando o copo, tomando no táxi, na rua, terminando no caminho ou abrindo a porta de casa.