quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Dez táticas de sucesso para se dar bem no bar da esquina


Bar é um dos melhores lugares pra flertar nessa vida. Você está lá pra relaxar, ficar embriagadinho, falar amenidades e encontrar pessoas na mesma sintonia. Facilita muita coisa.

Depois de muito frequentar o bar com minha amiga Dani, acabamos elaborando um pequeno manual de técnicas de sucesso pra sair acompanhado de lá, amostra singela de nosso vocabulário, construído com litros de bebidas e esforços agradáveis.

Você pode combinar várias das táticas no mesmo flerte, então pega o copo de cerveja e vem com a gente!

#1 Não tenha receio de beber sozinho. Tem gente que fica toda encabulada de beber sozinha, mas isso é bem legal. No caso do seu bar cativo, a vantagem é chegar e conhecer a galera que frequenta, então é sempre provável encontrar alguém conhecido. Do contrário, abra uma garrafa, aproveite sua bebida, olhe a paisagem, observe as pessoas, pense na vida, veja a novela sem som na TV. De repente, olha que coisa, aparece aquele broto! Daí é partir para os próximos passos.

#2 Tenha sua mesa cativa. Você senta sempre no mesmo lugar, o garçom sabe qual seu drink favorito e a visão é estratégica. Em nosso caso, eu e Dani optamos pela mesinha logo na porta. É perto do balcão e você fica no caminho das pessoas. Visibilidade é fundamental, não é mesmo? O problema é que a nossa mesa era também lugar cativo de um cara que muitas vezes chegava antes da gente. Ficávamos chateados, mas a vida é assim: às vezes, alguém chega antes de você.

#3 Olhar dentro dos olhos sem compromisso. Chegar junto não é fácil, tomar toco, então, nem se fala. Contudo, desenvolvemos esse eficiente método de olhar profundamente nos olhos da paquera. Chegou alguém que você não sabe se vai entrar na sua? Não deixe de arriscar, olhe de forma penetrante nos olhos daquela pessoa, não tenha vergonha, não pense muito nas consequências, apenas mire. Se o alvo do seu desejo desviar o olhar, não desista. É comum rolar uma segunda olhada como quem pergunta: era comigo mesmo? Tira-teima pra saber o potencial de algo render.

#4 Acene com um copo. O gesto é simples. Segure um copo e levante sua mão até a altura do rosto, levemente, acompanhada de um sorriso, como quem diz oi ou oferece um brinde à pessoa. Essa é uma das melhores táticas pra ver se vai rolar. Em caso positivo, em geral, o tempo entre o aceno e a pessoa estar ao seu lado leva poucos minutos.

#5 Aproximação. Não é fácil chegar junto das pessoas, principalmente quando você não é nenhum Cauã Reymond. Mas um bom papo faz a diferença. Pra não falar sobre o calor ou a chuva, recomendamos que você puxe assunto falando sobre bebida mesmo. “Adoro essa cachaça que você está bebendo”, “já experimentou a de milho?”, “fez boa pedida, hein” são formas possíveis de iniciar uma conversa.

#6 Peça um isqueiro. Essa é bem velha, mas ainda funciona muito. Mesmo que não seja fumante assíduo, nossa dica é experimentar de vez em quando um cigarrinho de palha mineiro. O tabaquinho é charmoso, apazigua a mente e serve de assunto pro desenrolo. Cigarro assim apaga a cada duas tragadas, então meça o potencial do empréstimo. Você vai ter que pedir mais de uma vez.

#7 Não se prenda a rótulos. Você é gay e, putz, aquele cara diz que é hétero? Vice-versa? Experiência própria: não é porque uma pessoa sempre bebeu Brahma, que ela não vá um dia provar Serramalte. Até quem diz que só bebe Heineken pode beber Colorado, se você oferecer com jeitinho. Na verdade, muita gente só está esperando que alguém mostre que há outros gostos. Aproveite sua chance.

#8 Ataque duplo. Tem vez que tudo fica indefinido, não dá pra saber quem quer quem e quem gosta do quê. Você não está sozinho na missão e sua companhia está interessada na mesma pessoa? Não tem problema, ajam em dupla. Há muitos resultados possíveis.
Bônus: Ataque coletivo também é uma técnica. Risos.

#9 More perto do bar. “Eu moro aqui pertinho. Vamos continuar bebendo lá em casa?” Isso não é uma simples frase, é música para os ouvidos. Acredite, existe a hora certa em que a gente só quer ir pra um lugar mais calmo. Quer opção melhor que o seu lar doce lar? Musiquinhas, bebidinhas, conversa num tom mais calmo, baita convite! Se você mora perto do seu bar cativo, lembre-se de ter um estoque de bebidas e delícias pra receber da melhor forma novas visitas.  
Bônus: se você sabe fazer massagem, jamais esconda esse segredo!

#10 Mata-mata. A noite foi longa, você abusou da capacidade de seduzir, ou não foi um dia de muitas possibilidades, a concorrência estava difícil, mil coisas podem ter atrapalhado seus objetivos... Nem sempre o mar está pra peixe, nem sempre o bar está para flertes. Mas não desista! Certos momentos pedem uma coragem adicional, exigem ousadia extra, e você não está a fim de abandonar oportunidades. É nessa hora que você e os parceiros de flerte olham para o relógio e cronometram dez minutos. É o tempo que vocês têm pro tudo ou nada, ou investem de vez nas pessoas mais interessantes ao redor, ou voltam pra casa de mãos abanando. O interessante dessa estratégia é a adrenalina envolvida, a superação de expectativas. Acredite, agir sob pressão rende ótimos resultados, portanto, tenha foco até o último segundo!

Bem, amigos, é isso. Se você tem sua própria tática, pode dividir com a gente! E são bem vindas cartas para a redação. Até a próxima!

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

um boteco pra chamar de seu



segundo conta minha mãe, eu aprendi a ler em cima de uma mesa de sinuca, no bar ao lado da nossa casa, num bairro lá da periferia de São Paulo, aos dois anos, em 1986. um velho alemão que frequentava o lugar me incentivava a escrever as vogais com o giz dos tacos e em troca me dava umas balas − um condicionamento nada ortodoxo, na verdade um tanto assustador, que aposto ter influenciado bastante a minha vivência etílica tempos depois. hoje eu não vivo sem um pé-sujinho, com amizades em volta de uma cerveja gelada.

mesa, cerveja. a receita é bem simples, recomendo. Você pode acrescentar amigos, conversa com o garçom, filosofia, flerte, ou tudo isso ao mesmo tempo.

paulistano, minha infância foi toda no interior do estado, em Assis. com meu sotaque de caipira, fui uma criança bem feliz. vez em quando, passava a tarde toda fora, voltava todo sujo de lama, comia goiaba e jabuticaba do pé, chupava cana caída dos caminhões da colheita, descascava amendoim fresquinho, cheio de terra.

meu pai frequentava o bar do Toni, um cara meio babão, que limpava o balcão com um pano xexelento, horrível. e os caras passavam o dia lá jogando truco, tomando cerveja, contando histórias. de vez em quando eu ia lá pra acompanhar o pai, ou então chamá-lo a pedido da minha mãe. eu tinha nove anos e naquela época ninguém tinha celular, então o jeito era ir andando pra dizer que o almoço estava pronto. lembro bem de pisar em ponta de cigarro e queimar a sola do pé mais de uma vez, e isso me faz recordar que eu curtia mesmo andar sem calçado, mas acho que depois, ainda novinho, me disciplinei mais um pouco, e passei a ir ao boteco de chinelo.

depois nós viemos pro Rio e meu pai tinha sempre um bar cativo. no começo fomos morar na Baixada, em Belford Roxo, e o que me deixava intrigadíssimo era o fato de as pessoas não falarem bar, e sim barraca. fiquei bolado por muito tempo com essa e outras diferenças de vocabulário. além do que, no Rio, ninguém jogava truco! nunca mais vi rodinha com um monte de marmanjo gritando como se fosse bater no outro, com uma carta de baralho colada na testa. mudança tem dessas coisas e hoje eu amo o Rio de Janeiro, sou bem carioca.

todo dia, quando chego do trabalho, tem o mesmo cara no bar da esquina. baixinho, de óculos, deve beirar os quarenta. ele e uma garrafa fiel. Tenho a impressão de ver aquela barriga de chopp crescer exponencialmente cada vez que passo. engraçado.

***

eu não sei quando foi a primeira vez que fui ao Bar da Cachaça, só sei que fui frequentando como experiência exótica para provar as doses, tomava sempre uma Germana, só porque um ranking publicado pela Playboy figurava colado em uma das geladeiras e dava boa classificação pra marca. eu achava o preço aceitável, passei a beber. bom custo-benefício pra quem não queria tomar Gabriela (sei que é uma das mais pedidas, mas eu não curto o sabor doce demais), ou a Cachaça de Gengibre, também preferência da casa, mas que também não faz muito meu gosto. hoje eu passo lá mais pra tomar cerveja mesmo.

moro praticamente na Lapa e esse bar é estratégico, já que reúne gente que me agrada, garçons simpáticos, bebida gelada, está a meio caminho do Circo Voador e até do MBA, quando volto a pé.

se eu andar em círculos, ora veja, o Bar da Cachaça fica entre a minha casa e o próprio Bar da Cachaça! não tem como não me agradar! são tantas histórias, em anos morando no Centro do Rio, que eu precisei criar esse blog (mais um na vida, enfim, não resisto). pelo padrão, o que eu narrar aqui será relativo ao Cachaça, mas tem muita mesa boa pra contar causo por aí. do Tondela, na Rua do Senado, ao boteco nas margens do Tapajós, no Pará. das noitadas regadas a vinho, no Uruguai, Pavão Azul em Copacabana, ao Bar Urca, ensolarado, tem sempre uma história boa pra lembrar.

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saideiríssima: sf. (sair + deiríssima) 1. gír A rodada, garrafa ou dose posterior à saideira, aquela que a gente precisa beber, nem que seja levando o copo, tomando no táxi, na rua, terminando no caminho ou abrindo a porta de casa.